Será que existe algo mais revoltante do que o desfecho trágico no sequestro de duas jovens arquitetado por Lindemberg Alves, na penúltima semana, em São Paulo? Será que existe algo mais absurdo do que um sequestro, após mais de cem horas de negociação, em que o sequestrador recebeu todas as exigências feitas à polícia, em que até o diretor de um time de futebol se solidarizou com a situação e tentou ajudar nas negociações, resultar na morte de uma jovem de 15 anos, atingida por um tiro na cabeça e outro na barriga, e de sua melhor amiga, que sobreviveu mesmo após um tiro na boca?
Talvez exista sim, tão cruel quanto o final e tão absurdo quanto as causas do sequestro: a espetaculização do fato.
O Brasil inteiro parou para assisir. Televisores ligados em todas as casas, registravam, a todo instante, o desenrolar da ação; nas páginas da internet, notícias e fotos eram publicadas a cada minuto; nas conversas no trabalho, nas escolas, nas ruas, nos bares o assunto era o mesmo: o sequestro de Eloá Cristina Pimentel, planejado por seu namorado Lindemberg Alves, de 22 anos.
A população inteira se revoltou, se manifestou e se sentiu no direito de opinar sobre o que estava ocorrendo. Havia mais do que um sequestro. Havia ali, uma novela, com um novo capítulo a cada momento e em que todo se perguntavam como começou e até onde poderia chegar.
Infelizmente, o desfecho foi trágico, levando à morte da jovem Eloá, e um trauma à amiga Nayara mas para população não bastava apenas aceitar o final do sequestro, ela continuava interessada em assitir até o último episódio
E assim foi. Mais de quarenta mil pessoas, curiosos, possivelemente desconhecidos de Eloá, se deslocaram de suas casas para assistir "ao vivo" o velório e o enterro da jovem. Câmeras fotográficas e celularares eram utilizadas por jovens para resgistrar o último momento da jovem que "levou uma multidão a seu enterro", como anunciou um site de notícias.

Milhares de pessoas se deslocaram para assistir ao velório de Eloá. Foto: G1
E onde este espetáculo continua? Possivelmente nos perfis de
orkut, nas comunidades relacionadas ao assunto, na troca de e-mails entre amigos e onde mais a curiosidade das pessoas, em relação à vida alheia permitir.
A grande contribuição para a super exposição do fato, cai sobre grande parte dos veículos brasileiros que noticiavam insistentemente a cada momento uma nova manchete, mesmo que esta nova manchete não tivesse absolutamente nada de novo.
A luta pela audiência deixou a programação da TV, nas últimas semanas, pautada basicamente pelos acontecimentos envolvidos no caso, onde a mesma cena, especialmente do desfecho do sequestro, era repetida diversas vezes durante o mesmo programa.
Infelizmente, não é o primeiro e nem será o último caso "espetacularizado" pela mídia. Já tivemos Suzane, Nardone e agora Lindemberg. Resta saber quem serão os próximos a fazer parte do espetáculo.
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