A comodidade de dirigir um veículo pode não ser compartilhada por motoristas que são obrigados a enfrentar a BR 116 diariamente. Com projetos ainda sem previsão de saírem do papel, resta aos usuários uma dose de paciência e atenção para circular pela rodovia.Mau humor, impaciência e desgaste são alguns dos sintomas de quem enfrenta diariamente o mesmo problema: encarar o tráfego da BR 116, a principal rodovia brasileira. Denominada Regis Bittencourt, a rodovia surgiu da necessidade em unir diversas regiões do Brasil em uma única estrada. Possuindo aproximadamente cinco mil quilômetros, a BR 116 abrange o país de Sul a norte, tendo sua origem na cidade de Fortaleza, no Ceará, e o término em Jaguarão, no Rio Grande do Sul, atingindo um total de dez estados brasileiros.
No entanto, nos últimos anos, o aumento excessivo da quantidade de veículos trafegando e poucos investimentos feitos para ampliação e duplicação da rodovia, resultaram em pontos extremante caóticos para o tráfego em determinados horários, como é o caso, por exemplo, do trecho que liga a capital Porto Alegre a cidades da região metropolitana, como: Canoas, Esteio, Sapucaia, São Leopoldo e Novo Hamburgo.
Os transtornos atingem a todos: motoristas de veículos, de ônibus, caminhoneiros, motociclistas e passageiros de transportes coletivos que são obrigados a passar por muitos minutos e, em alguns casos, por horas, numa rotina estressante de partidas e paradas dos veículos. Os horários mais complicados são nas primeiras horas da manhã e finais de tarde, onde geralmente as pessoas se deslocam para o trabalho e retornam a suas casas, ou estudantes que se dirigem para as universidades da região metropolitana.
A insatisfação ao deparar-se com os chamados "engarrafamentos" é visível no rosto de motoristas. Para quem precisa chegar no horário em algum compromisso ao ter que enfrentar a BR 116 em horários de pico, a sugestão é se deslocar o quanto antes até a rodovia. Fernanda Mônaco, moradora da capital e estudante de direito da Unisinos conta que já perdeu a quantidade de vezes que chegou atrasada às aulas na universidade, em São Leopoldo.
"geralmente quando ocorre um acidente, os motoristas ficam curiosos e querem ver o que aconteceu, atrasando ainda mais o trânsito", analisa a estudante. A mesma opinião é compartilhada por Airton Alves, motorista de uma empresa de ônibus há mais de vinte anos e que faz o trajeto Porto Alegre-Canoas diariamente. Para ele, acostumado a presenciar muitos acidentes na rodovia, o pior erro cometido por motoristas é a distração. "Muitos diminuem a velocidade para ver um acidente e 'quando vê' já estão encostados na traseira de outro carro", diz o motorista.
Para o patrulheiro da Policia Rodoviária Federal, Antônio Gonçalves Lima, a imprudência de alguns motoristas é a maior causa de acidentes na BR 116. ”Muitos fazem manobras arriscadas visando ganhar mais tempo, o que resulta muitas vezes em colisões com outros veículos” Além disso, para ele, o aumento significativo no número de veículos trafegando na BR 116, deixa o transito mais lento em alguns “gargalos”, pontos de concentração de entradas e saídas de outras vias, que dão acesso à BR 166, como nas proximidades com o Aeroporto Salgado Filho, Freeway, e entradas das cidades de Canoas, Esteio e acesso a universidades como a Unisinos, em São Leopoldo.
Soluções ainda demoram a sair do papelTema de debates constantes entre autoridades interessadas no assunto, a BR 116 recebe propostas para que os problemas de congestionamento diminuam signficamente. No entanto, poucas soluções de fato foram encontradas até agora. O DNIT, departamento nacional de infra-estrutura e transportes, órgão responsável pela manutenção e conservação da estrada, já anunciou, para empresários e políticos, obras para desafogar o trafego. A previsão do órgão é que até o ano de 2010 as obras estejam finalizadas. O anúncio foi feito em janeiro de 2007, durante uma reunião para envolvidos no assunto. Na ocasião, o superintendente regional Marcos Ledermann, divulgou que mais R$ 500 milhões de reais seriam destinados até o final de 2010 para melhorias nas vias da Região Metropolitana.
O projeto conta com três eixos: modernizar a BR 116, criando uma via expressa; criar o Serviço de Atendimento ao Usuário, com ampliação de serviços para motoristas e a previsão de construção BR-448, chamada Rodovia do Parque.
“Polão” e Anel Rodoviário em debateHá ainda em discussão dois projetos distintos para solucionar os problemas da BR 116: o Pólo Rodoviário Metropolitano, conhecido como "Polão" e o Anel Rodoviário. As obras do "Polão" prevêem a construção de 41 quilômetros de novas rodovias e duplicação da RS 118. Já para as obras do Anel Rodoviário estão previstas a construção de duas novas estradas que ligariam Porto Alegre a Novo Hamburgo e Estância Velha, somando mais de 90 quilômetros de novas construções.
No entanto, a discussão entre os projetos divide opiniões de especialistas das cidades da região metropolitana e das cidades do Vale dos Sinos, pois além de desafogar o trafego na BR 116, as construções intensificam o desenvolvimento de uma cidade, valorizando seu crescimento e de sua região. Em ambos os projetos está a previsão de instalação de praças de pedágios, o que desagrada a muitos motoristas. "Como sempre, quem paga é o povo. Não planejaram a estrada direito e agora querem arrumar às nossas custas", indigna-se Rafael Correa, morador de São Leopoldo que se desloca diariamente para Porto Alegre, onde trabalha.
As universidades da região metropolitana recebem milhares de alunos diariamente. Uma delas, a (Unisinos), localizada em São Leopoldo recebe centenas, entre alunos e funcionários, de motoristas diariamente em seu campus. Além dos transtornos ocasionados pelos atrasos na estrada, os motoristas que se deslocam até a Unisinos encontram outro problema: a dificuldade em encontrar uma vaga nos estacionamentos da universidade. Para muitos, a tortura no trânsito não acaba ao chegar à Unisinos. O martírio na busca por uma vaga próxima ao centro de aula faz com que muitos motoristas percam mais tempo à procura de um espaço para seu carro. Muitos deles não obtêm sucesso e são obrigados a deixar os carros em locais distantes dos centros. É o caso de Fabricio Nunes, que se desloca da capital para a Unisinos três vezes durante a semana. “Saio do trabalho às 18h 30, enfrento o caos na BR 116 e quando chego aqui, às 19h30, as melhores vagas já estão ocupadas”, reclama Nunes.
Uma opção para os alunos, neste caso, seria utilizar o transporte público, como o Trensurb que faz uma parceria com a Unisinos, cobrando o mesmo valor da passagem unitária para deslocar os alunos da estação até o campus. Outros estudantes ainda utilizam o sistema de transporte coletivo, através de ônibus ou vans. Para estes, no entanto, o contato com a BR 116 é inevitável, mas conta com a socialização do transporte coletivo. Para os motoristas, os transtornos na BR 116 ainda não têm data para acabar, resta aguardar dos órgãos responsáveis, a competência para darem inicio às obras de modernização da rodovia.
Reportagem originalmente produzida para discilplina de Redação Jornalística II